O chapéu de Vermeer

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O homem é o homem e suas circunstâncias. O pintor é o pintor e o que ele vê. Este livro vai demonstrar isso de maneira brilhante. O autor utiliza cinco telas de Vermeer (A vista de Delft, Oficial e moça sorridente, Leitora na janela, O Geógrafo e Mulher com Balança) para ilustrar o contexto histórico da época em que foram pintadas. É lícito supor que o que Vermeer via e vivenciava nas ruas de Delft, de onde nunca saiu, estão em seus quadros. E já que ele não saia de lá, o mundo veio até Delft, e Vermeer, em sua curta existência (1632 – 1677), presenciou grandes mudanças em seu meio. Provavelmente muito ele se espantou com as novidades que chegavam ao porto de Delft nas grandes embarcações da primeira corporação de atuação global, a famosa Companhia das Indias Orientais. Timothy Brook é um especialista em história da China, e chegou até Vermeer pelo caminho do comércio. A pujança da sociedade holandesa do século XVII explica-se em grande parte pela ousadia de suas interações comerciais com todo o mundo conhecido. As cinco telas em questão do mestre de Delft dispensam olhar de lince, elas são suficientemente belas para chamar a atenção tão somente pela capacidade mágica do artista em trazer à tona, de forma tão brilhante e peculiar, o cotidiano de uma sociedade em processo de enriquecimento lícito. Mas os detalhes que escapariam facilmente a alguém de olhar menos aguçado, não podem ser ocultados de alguém tão afeito às nuances como Brook. Como e porque certas coisas estão lá ? Um chapéu vermelho de pelo de castor do Canadá? Uma porcelana chinesa ? Tudo tem uma explicação consistente e, via de regra, bastante divertida. O autor sabe narrar a História fundindo fragmentos de realidade com enxertos criativos sobre pessoas e lugares, o que é raro de se encontrar. Um  mergulho no século XVII, no início da primeira grande Globalização. Vale a pena.

Goodbye Yellow BRIC Road, ou O que eu aprendi sobre a China

Vejo muitas discussões rasteiras, bidimensionais, sobre diferenças entre Brasil e China. Muitos falam que um sistema não democrático facilita a tomada de decisões e consequentemente funciona como alavancador da velocidade com que a China ganha espaço. Outros dizem que é a apatia dos chineses, que tudo acatam sem pestanejar o que realmente destrava o país. Nada disso me convence. O que precisamos definitivamente apreender é que obstinação não depende de regime político, nem qualidade das instituições ou qualquer de outro falso argumento para justificar porque o entre a Grande Muralha e o Himalaia existe tanta “acabativa”.

O que move a China, e a faz tão apta a exercer o domínio no novo milênio, são suas pessoas. E estas são ordeiras, disciplinadas, obstinadas e que sabem que o esforço individual ao fim e ao cabo é a mola propulsora do progresso. E eles estão aplicando esta firmeza de caráter para estudar, estudar mais ainda e ainda aprofundar-se nos estudos. Veja aqui a reportagem de Gustavo Ioschpe sobre a educação na China que ilustra isso sobremaneira.

A estrada de tijolos amarelos terá de achar outra cor. Minha aposta é que ele vai empalidecer de vez. É difícil ela ganhar os tons pardos dos ursos da velha Rússia ou mesmo os tons da mulatice indiana. Ambos os países carecem de instituições sólidas para ditar o crescimento sustentável. O enorme arco-íris brasileiro que tudo comporta infelizmente não tem a capacidade de planejmento que é indispensável para ditar o ritmo desta marcha. E os amarelinhos do Império do Meio vão para outra divisão logo, logo. Mais acima, muito mais acima.

Resiliência, obstinação, caráter, disciplina e objetivos claros nunca fizeram mal a ninguém.