Como comentar uma peça que não será a mesma que você vai ver? No teatro do improviso, não há texto pronto, não há pré-concepções, não há nada. Cada apresentação é única. Os atores criam um enredo a partir de um texto sugerido pela platéia. No caso de Uãnuei, Pedro Cardoso e sua esposa, Graziela Moretto, conseguem em duas partes curtas, de 30 minutos cada, criar situações cômicas que cativam o público, que, se desde o início se confessa inexperiente com a proposta, ao mesmo tempo, está curioso para ver no que aquilo vai dar. E o que resulta é explosão de talento em estado bruto, sendo lapidado na hora, diante da platéia. A criatividade é a tônica do espetáculo, e mesmo o “erro” deixa de sê-lo, pois ele é interpretado como apenas mais uma opção de narrativa, que deixa então de ser emergente e passa a ser a principal. Quando os atores se veem diante de um beco escuro, sem saída, até um corte abrupto e a rapidez com que eles incorporam novos personagens é evidência de virtuosismo e se converte em pontos ganhos junto ao público.
O mais bacana, porém, é a disposição da dupla de discutir esta abordagem inusitada, o que eles fazem em um descontraído bate-papo no encerramento de cada sessão. Só esta parte vale pela possibilidade de desmistificar os ídolos, desnudar o processo criativo dos atores, pelo seu didatismo. Pedro já havia recentemente nos brindado com uma excelente performance em Os Ignorantes. Agora nos mostra, no mesmo nível, o ato teatral mais visceral. Ainda dá para ver antes do Natal, hoje e amanhã.